O ano de 2023 reuniu um grupo de professoras e professores de Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) do Cerrado e da Amazônia. Sessenta pessoas participaram de 220 horas de formação online, em sete módulos sobre temáticas de gestão e comercialização para empreendimentos da agricultura familiar, de povos indígenas e de comunidades tradicionais. A formação permite dialogar sobre temas de Acesso a Mercados, Desenvolvimento Organizacional Participativo, Cadastro Ambiental Rural, entre outros. 

Para Simone Almeida, agricultora familiar e e da União Nacional das Escolas Famílias do Brasil (Unefab), estas formações foram uma oportunidade ímpar. “As pessoas que participaram estão levando uma vasta experiência para a sua vida profissional e pessoal também. Foi uma troca muito grande de experiências, e de construção em coletivo. Agora, que estamos concluindo o processo de formação, sabemos que isso é um começo, para levar essa vivência para as EFAs”, destaca Simone. 

Depois de cada módulo, as pessoas que participaram da formação ainda apresentaram planos de ensino e aprendizagem para fechar o trabalho de formação.  Josefa Silva, uma das participantes da formação, tem planos para 2024. “Ano que vem, quando a gente se reencontrar para trocar experiências, eu espero poder trazer a experiência da implementação dos nossos planos, sobre a Feira da Troca que queremos construir, sobre as discussões de CAR que queremos implementar. Trabalhar esses temas em sala de aula é muito relevante para o nosso contexto de trabalho”, projeta a professora do município de Santarém, no Pará.  

A estratégia de levar esta formação para representantes de EFAs apoia processos de formação continuada, uma vez que mobiliza quem está ensinando nestes espaços. “Nós tivemos a ousadia de dialogar com a equipe do CapGestão, que já tinha um curso bem formatado, e nós pudemos propor três novas oficinas, e conseguimos trazer novas perspectivas junto ao que já havia sido construído. Foi uma caminhada que nos abriu inúmeras portas, enriquecendo a nossa formação, que reflete na própria formação que passamos a oferecer em sala de aula, nas EFAs”, ressalta João Begnami, da Associação Mineira de Escolas Família (Amefa).  

O CapGestão Cerrado é promovido pelo projeto Ceres, uma parceria com o WWF-Brasil e o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), com apoio da União Europeia, do projeto Bioeconomia e Cadeias de Valor e do Centro de Gestão e Inovação da Agricultura Familiar da Universidade de Brasília (UnB), que certifica a participação como atividade de extensão da própria universidade. E essa edição de formação de profissionais de ensino das Ceffas ainda contou com a parceria da Unefab, Amefa e do Projeto Cátedra. 

Experiências em sala de aula 

Os Planos de Ensino e Aprendizagem foram entregues a cada final de módulo, junto com um breve relato de experiência de sua aplicação na escola, mesmo que parcial. Este processo estimula que o conteúdo seja apropriado e pensado dentro da realidade de trabalho destas professoras e professores.  

Os Planos apresentaram enfoques bem diversos, dialogando com o ensino de disciplinas como Matemática, Língua portuguesa, Informática, Inglês, Agricultura, Zootecnia, Geografia e Biologia, por exemplo. Isso significa ter um olhar de interdisciplinaridade, sempre atrelada a temáticas socioambientais.  
Um exemplo desse trabalho foi o realizado pela EFA de Porto Nacional, no Tocantins. Ali foram promovidas aulas práticas relacionadas à identificação de diferentes fitofisionomias do Cerrado na área rural onde está localizada a escola. A área dessa EFA faz divisa com propriedades que possuem monocultivos, o que faz com que a escola esteja frequentemente exposta a ameaças, como, por exemplo, pulverizações aéreas de agrotóxicos. Ali, foi possível identificar a presença da abelha nativa jataí (Tetragonisca angustula) em ambientes conservados de Cerrado, destacando para estudantes a importância de ambientes produtivos e saudáveis para muitas espécies.  

Estas experiências foram relatadas no trabalho “O curso de extensão Produção agroecológica e restauração ecológica produtiva do Cerrado no CapGestão Cerrado”, apresentado no XII Congresso Brasileiro de Agroecologia, que ocorreu em novembro de 2023.  O relato está disponível em aqui.