Como implementar estratégias locais para aumentar a renda e valorizar os produtos da sociobiodiversidade?
Produzir com e a partir da floresta, respeitando os modos locais, é um desafio para o setor empresarial. Promover relações socioambientais mais justas e responsáveis, ao mesmo tempo em que se garante acesso a produtos de qualidade, requer comprometimento de diversos grupos envolvidos, desde quem produz até as próprias empresas e o setor público. Isso significa somar esforços para construir outras possibilidades de desenvolvimento para a Amazônia.
Este é o caso da parceria que vem sendo implementada entre produtores locais, a empresa Manioca, a GIZ e instituições do governo do estado do Pará. Desde 2023, a partir de um projeto firmado entre a GIZ e a Manioca, ações de assessoria, formação e acesso a insumos vêm sendo implementado com 50 famílias que fornecem seus produtos da sociobidiversidade, como mandioca, açaí, cupuaçu, pimentas e temperos, por exemplo. “Este projeto é uma oportunidade única de articular parceiros com o objetivo de aumentar a renda das famílias que já fornecem parte de seus produtos para a Manioca. Temos o objetivo de aumentar renda por hectare, por meio de valor agregado e mais diversidade produtiva. Isso torna o cultivo mais atrativo, se comparado com outras culturas que não são típicas da sociobidiversidade da Amazônia”, comenta Paulo Reis, diretor da Manioca.
O projeto tem dois focos principais de atuação. Primeiro, todas as famílias estão recebendo assessoria no processo de regularização ambiental das propriedades. “Um desafio que a gente sempre teve neste processo de apoio para as comunidades produtoras é o tema da regularização ambiental. Então, enquanto empresa parceira destes produtores, a Manioca sempre quis apoiar no processo de emissão do Cadastro Ambiental Rural (CAR), para os nossos produtores. Isso ajuda eles a acessarem direitos e políticas públicas, mostrando que estão regularizados com a situação ambiental”, afirma Paulo. Além disso, o CAR também é parte importante para processos de certificação, mostrando como estes partem de áreas regularizadas em termos ambientais. Certificações representam, nestes casos, a possibilidade de agregação de valor, associando-os a áreas produtivas mais sustentáveis.
Em 2023, foi feito um levantamento sobre a situação de cadastro das famílias. A partir destes dados, o projeto definiu focar o trabalho com as famílias que ainda não haviam iniciado nenhuma etapa do processo de regularização ambiental. Assim, em 2024, estas famílias farão parte de um mutirão, a ser realizado em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade e com a Empresa de Assistência Rural do Pará.
Já o segundo foco de trabalho está no estímulo à produção orgânica, outra forma de agregar valor aos produtos. Pelo projeto, 11 famílias das comunidades Boa Vista, no município de Acará, e Conceição do Mirindeua, em Moju, estão recebendo apoio para iniciar a produção orgânica de mandioca. Somada a uma produção orgânica, o projeto também estimula a diversificação da produção por meio de plantios consorciados e recuperação de áreas degradadas. Em 2023, foram realizadas em cada comunidade cinco capacitações com assuntos relevantes para os produtores, com o intuito de dialogar sobre dúvidas e conhecimentos que agreguem para autonomia de suas produções. Depois das capacitações, 02 hectares já foram plantados respeitando as normas de produção orgânica e o esperado é um rendimento mínimo total é de 40.000 quilos de mandioca orgânica. Com apoio de articulações com instituições do governo do estado do Pará, como a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuária e da Pesca (Sedap), insumos, como 27 mil mudas de mandioca, foram doados a essas famílias produtoras. Também está previsto um processo de assistência técnica para as comunidades.
Seu Antônio Marcos Teles e Teles, de 42 anos, é um dos produtores que têm participado do processo. Ele mora na comunidade Boa Vista, no município de Acará. Para ele, “com a assistência técnica que foi proporcionada, aprendi a técnica do cultivo da mandioca, pimenta, açaí, mamão, cupuaçu e limão. Aprendemos como fazer biofertilizantes e como aplicar nas plantas, a fazer inseticidas naturais, com os materiais que temos aqui mesmo. Enfim, nos tirou muitas dúvidas que ainda tínhamos em relação ao cultivo. E todas as formações vão me ajudar no fornecimento de mandioca e pimenta para a empresa Manioca, me dando a oportunidade de crescimento do meu trabalho. Esta parceria já tem dado muito certo!”, celebra o agricultor.
Quem faz parte desta parceria
A Manioca é uma empresa de Belém, criada em 2014. Sua atuação se baseia em relações mais justas e próximas com as famílias fornecedoras, de quem vem os ingredientes que são a base de seus produtos. “Fazemos tudo de forma artesanal e sustentável, movimentando a economia das comunidades locais e contribuindo com a preservação da maior floresta tropical do planeta”, destaca Paulo. Assim, a proposta da Manioca é criar alimentos voltados para um público mais urbano, utilizando ingredientes e sabores da sociobiodiversidade da Amazônia. Ingredientes tradicionais da culinária amazônica como o tucupi, cupuaçu e cumaru se transformam compondo preparos como temperos, molhos, geleias, granolas, farinhas e farofas.
As ações envolvem ações conjuntas de dois projetos da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, o Bioeconomia e Cadeias de Valor e o projeto CAR, ambos implementados pela GIZ com recursos do Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha. Bioeconomia e Cadeias de Valor é desenvolvido por meio da parceria entre o Ministério Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).